Ahimsá: a não agressão
Esta é uma norma ética da tradição do Yôga que visa aplicação cotidiana e que vai muito além da simples agressão física. Este conceito é tomado de forma muito mais ampla, nos ensina a buscarmos não só a melhoria das atitudes, mas também o amestramento das emoções e a lucidez dos pensamentos, tanto sobre os outros e quanto sobre nós mesmos. Ahimsá(não agressão) trata fundamentalmente de respeito universal e incondicional para com qualquer forma de vida. De qualquer maneira, sabemos que é impossível viver sem incorrer em alguma forma de hostilidade, pois nosso dia a dia nos impele a sermos muito mais reativos do que próativos. Mais importante é tratarmos de nos esvaziar ao máximo da hostilidade e das animosidades, nos esforçando verdadeiramente para isso.
Renato Henriques grande professor de nosso estado nos ensina que, o Yôgin, ao lograr a realização de ahimsá, pode meditar nas selvas sem ser importunado por animais selvagens. O mundo a nossa volta é uma selva e funciona como um espelho, ele manifesta o que é externalizado por nós. Se cultivarmos atitudes agressivas, atrairemos exatamente isso. Em suma, aquele que está em paz, vivenciará ahimsá tanto interna quanto externamente.
Os sútras(aforismos) de Pátañjali , abaixo, ilustram bem a idéia de que ahimsá é uma prática para o dia a dia. Mostra que a não agressão vai além das ações, mas inclui também os pensamentos e as emoções. Nesta escritura da tradição oriental(tradução DeRose), que foi escrita a aproximadamente 2300 anos, vemos que as atitudes e pensamentos agressivos são sempre fruto de nossa própria ignorância e que o fim inevitável da falta de conhecimento sobre nos mesmos é o sofrimento.
Quando se vivencia a não-agressão, a hostilidade desaparece em nossa presença. (II – 35)
Quando surgirem pensamentos indesejáveis, estes podem ser vencidos convivendo-se com seus opostos. (II- 33)
Jamais devemos confundir pacifismo com passividade. O grande exemplo de não violência ativa foi Gandhi, que libertou a Índia da opressão do Império britânico. Sem derramar uma gota de sangue, 700 milhões de pessoas foram libertadas em 1947. Isto está longe de ser passivo, este fato nos mostra que a não agressão pode ser absolutamente ativa.
Ao oferecer ao outro a outra face, estamos demonstrando nosso poder. A capacidade de sermos senhores de nós mesmos e não permitir que outrem seja responsável por nossas reações.
Para fecharmos este pequena reflexão, há uma questão fundamental a ser pontuada. De nada adianta a vivência da não agressão se ela não for verdadeira. Não só da pele para fora. A não agressão dever vir sempre acompanhada de satya – a verdade. A força de ahimsá está na sua vivência honesta, em realmente eliminar de nosso coração os sentimentos e pensamentos agressivos, que são frutos de nossa própria ignorância. Esta não é uma tarefa fácil, pois só alcançaremos este grau de discernimento com disciplina constância e humildade. Inspiri-se!
Fabiano Gomes