A experiência cria desejos
Texto por Paola Martins
Cada uma das nossas células contam a história daquilo o que somos, e, principalmente, daquilo o que nos tornamos ao longo do tempo, daquilo o que nos transformamos dia após dia.
O que experienciamos fica marcado em nosso DNA, passando a fazer parte da nossa constituição molecular. Vivência, ideias, sentimentos, lembranças... Tudo desperta e desencadeia uma reação química própria, que percorre nossa corrente sanguínea e se espalha pelo nosso corpo.
Tudo é físico.
Cada uma das nossas experienciais, que são, justamente, aquilo o que não confere vida, passam pelo corpo.
E o corpo comunica desejos a todo o tempo.
Alguns deles, são facilmente identificáveis: Diante da fome, há o despertar do desejo pelo alimento. Ao sentir frio, desejamos calor. Se a sede apertar a garganta, desejaremos água.
Outros desejos, entretanto, revelam-nos raízes mas sutis, menos perceptíveis...
De onde surge o desejo por acumular riqueza?
Ao tentar listar uma razão, é possível que sejam inúmeros os gatilhos que lhe venham a mente: a ausência de possibilidades, a pobreza vivida, os planos traçados, a avareza, o orgulho...
Como nasce o desejo da paixão por alguém? Do olhar, do toque, do gosto, da conversa, do encaixe dos corpos, da carência, da compatibilidade ou da dor?
Como identificar com precisão qual experiência ou experiências culminaram em cada um dos nossos desejos?
O autoestudo necessário para desvelar estas camadas, uma a uma, acessando o cerne de si mesmo, travando contato com nossas memórias e fragmentos de realidade que se traduzem aqui e agora nesse desejo consiste em um exercício potencialmente desagradável.
Enfrentar os motivos nunca é simples.
Mas encontrá-los nos confere potência.
Uma vez entendendo que a experiência cria desejos, e localizando quais experiências nos trouxeram aos desejos que tão arduamente lutamos para atender dia após dia, adquirimos a possibilidade de deixar ir desejos que estejam nos ferindo.
É contraintuitivo lembrar que nem sempre o que desejamos é o que precisamos, e que, muitas vezes, o que desejamos sequer nos faz bem.
O desejo é um motor potente, e nos conta uma história.
Nossos desejos mudam de cara, de gosto, de formato, de cor ao longo dos anos da nossa vida, ao longo do nosso acúmulo de experiências.
Mas ainda que transmutem, desejar é o pulsar que nos mantem vivos.
Entender a relação entre experiência e desejo nos proporciona sair de um local de vítimas da circunstâncias e da situação. Ainda que não tenhamos contribuído em nada com a situação que experienciamos, podemos escolher adotar todas as medidas necessárias para nos livrarmos dela, no sentido de efetivamente deixá-las no lugar onde pertencem, o passado, deixando desejos que não nos servem mais de lado.
Tudo é desejo. Onde faltar desejo, faltará o pulsar de vida. A verdadeira arte é sublimar e amestrar nossos desejos, sem nos deixarmos dominar por eles: reconhecê-los, entendê-los e, se for o caso, substituí-los através de novas experiências.
Para criar novas histórias, permita novos desejos. Para criar novos desejos, viva novas histórias.
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