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Autoconhecimento x Autoilusão

Texto por Paola Martins

Normalmente, tudo o que fazemos, falamos, pensamos e criamos é uma manifestação, muitas vezes inconsciente, das narrativas que criamos para nós mesmos e as quais permanecemos apegados ao longo das nossas vidas.


Pense em tudo aquilo o que define você. É provável que lhe venha à mente elementos como a sua profissão, os seus vínculos afetivos, o seu time de futebol, seus passatempos preferidos, suas características físicas, coisas assim.


É normal que sejamos o “João, filho da Maria”, a “Ana, advogada”, o “Luis, marido do Rodolfo”, o “Roberto, do clube de tênis”, dentre outras descrições semelhantes que usamos corriqueiramente.


Todos esses aspectos não passam de narrativas, que variam de acordo com o interlocutor, mas a realidade daquilo o que somos é uma verdade que só acontece da pele pra dentro. No exato instante em que tentamos nos definir, já perdemos uma fração do nosso conteúdo.


Para quebrar este ciclo vicioso, de ser aquilo o que dizem (ou que digo) que sou, é necessário, primeiramente, dar-se conta do vício em si.


Os limites são aquilo que nos define. Você está satisfeito com o que define você?


Muitos de nós responderão negativamente a essa afirmação, porque estamos condicionados a reagir negativamente à mera ideia de “limite”, pois vivemos em um mundo onde a “liberdade” é muito exaltada (e pouco compreendida).


Dar-se conta do seu limite, das suas definições é um marco de clareza mental essencial e imprescindível àqueles que se propõe à jornada do autoconhecimento. O perigo, entretanto, reside, naqueles que tropeçam nesse primeiro degrau, caindo no arcabouço traiçoeiro da autoilusão.


O estágio da autoilusão acontece quando, assim que vislumbramos um raio de luz que nos mostra com clareza a nossa essência, a nossa realidade verdadeira que acontece da pele pra dentro, ficamos tão amedrontados com a intensidade do brilho daquilo o que somos que, no afã de evitar a cegueira, fechamos ou vendamos nossos olhos.


É por isso que criamos narrativas novas, que, apenas por não serem mais as mesmas narrativas antigas, nos dão uma falsa ilusão de avanço na direção do autoconhecimento.


Funciona mais ou menos assim: Após anos de autoestudo você consegue se dar conta que não é um bom líder. Essa clareza mental não é confortável, essa descoberta não seria agradável nem para você nem para ninguém. A partir desse ponto, duas opções se desdobram a sua frente: você pode mergulhar ainda mais fundo, para entender os motivos verdadeiros que dificultam suas habilidades de liderança, para trabalhar no seu aprimoramento, ou você pode convencer-se de que “não nasceu” para liderar, e dar a coisa toda por encerrada.


O primeiro caminho, é o do autoconhecimento e da autossuperação, e advém não apenas da clareza mental, mas talvez, e principalmente da coragem, no sentido de colocar verdadeiramente o seu coração nas coisas que você deseja no seu âmago.


O segundo caminho é o da autoilusão, que é como um band-aid bonitinho que você pode colocar em si mesmo para qualquer situação. Apenas lembre-se: band-aids descolam e a ferida continuará ali, pedindo que você tome providências para a cicatrização.


Por isso, é importante que você separe o autoconhecimento da autoilusão, e não deixe que o medo do insucesso em alguma etapa da sua jornada evolutiva lhe impeça de se transformar naquilo o que você é de verdade.


O mundo merece e deseja ver a realidade daquilo o que você é da pele pra dentro.



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