Espaços
Texto por Paola Martins
No universo (neste e em todos os outros (até onde se saiba)) existe muito mais o vazio do que o cheio.
Mas, por algum motivo, o espaço vazio nos incomoda.
Seja a pausa de silêncio no meio de uma conversa, uma janela em branco na agenda em plena quarta-feira de tarde, uma paisagem sem prédios, sem pessoas, apenas o verde a perder de vista, ou o céu azul, completamente azul, sem nenhuma nuvem... Todos estas ausências nos incomodam um pouco, pois somos condicionados a sempre sentir falta.
Espaços nos amedrontam.
Preferimos a multidão, o barulho, o tumulto, a ausência de pausas, a alimentação e estímulos incessantes, o aperto, o copo transbordando.
Pois sempre que precisamos encarar o vazio no mundo lá fora, diante de nossos olhos, sempre que precisamos contemplar o espaço, somos impulsionados a olhar para dentro de nós mesmos, e sim, isto é apavorante.
Depois de tanto tempo acostumados a tudo o que vem de fora, o desconhecido só pode realmente habitar da pele pra dentro, e isso, para os que não se deram conta ainda, é um grande choque.
Se repararmos, o mundo nos dá, o tempo todo, mais oportunidades de nos jogarmos nos espaços em branco do que de nos espremermos em lugares já habitados. Porém, insistimos em coabitar as mesmas multidões superlotadas.
O que te apavora no espaço?
O nada é tão assustador, que muitas vezes nos deixamos definir pelas nossas relações (sou o marido do fulano, a filha da ciclana, etc), pelas nossas ocupações (sou médica, sou professor, etc), pelos nossos hobbies (sou colecionador, sou fotógrafo amador, etc), por tudo aquilo o que nos preenche de coisas, mas nunca pelos espaços que nos restam.
Se continuarmos a nos preencher com coisas, atividades, relacionamentos, condicionamentos, ideais, sentimentos... mais dia, menos dia, implodimos.
Para evitar essa tragédia, precisamos aprender a cultivar nossos espaços em branco.
O vazio é tão ou mais necessário para sermos o que verdadeiramente somos quanto as ocupações.
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