O local de práticas
Texto por Paola Martins
"Bhavana ou Bhavan" significa "local de práticas".
Toda a sala de práticas viu, ouviu, testemunhou, sentiu, de suas portas pra dentro e entre suas quatro paredes, uma enormidade de vidas sendo vividas em diferentes estados e estágios.
Na Luciana de Abreu, 115, nosso Bhavan do terceiro andar poderia contar inúmeras histórias em mais de uma década. Práticas às 4h da manhã, celebrações em grande estilo, abraços, lágrimas, gargalhadas, quedas, conquistas - de ásanas, de ritmos respiratórios, ou mesmo de um melhor yôganidrá, sala lotada, distanciamento social na pandemia, configuração com palco, sem palco, horizonte simbólico prum lado pro outro e depois mudando de novo, sistemas de som que se aprimoravam praticamente a cada semana, luzes azuis (e amarelas e vermelhas e verdes e piscantes), novas webcams, palestras lotadas, estoque de pilhas para microfone, artes nos quadros, shiva iluminado pro carnaval, a Eureka, o Guapo, a Roma, o Molico, baladas, treinos de coreografia, trilhas sonoras com milonga, com pop, com rock, com mpb, com clássicos (e até com funk?), provas de federação, rodinha de 10min de chatuspadásana, prática em dupla, prática de dia dos namorados, de feriado farroupilha, de carnaval, de aprofundamento, à luz de velas, mantras de precisar fechar as janelas, cobertinhas, muita limpeza de EVA e diversas artes aprontadas por shivito.
Desde aspirantes a grandes mestres, passando por professores e instrutores de peso, nosso Bhavam vivenciou Fabiano Gomes, Tanara Fritsch, Aline Bohrer, Jóris Marengo, Melina Flores, Lívia DeRose, Lucio Martinez, Pedro Mar, Ricardo Poli, Yael Barcesat, Nina de Holanda, Mestre Luís Lopes, Mestre Edgardo, Mestre DeRose, e muitos, muitos outros nomes de peso na nossa rede.
Também é preciso falar sobre a força, o poder e a energia de cada um dos nossos alunos. Dezenas de pessoas passaram pelo nosso local de prática e sentaram-se em qualquer posição firme e confortável para dar início a uma jornada insana de autoconhecimento e descobertas. Nenhum de nós saiu do terceiro andar da Fabiano Gomes School da mesma forma como chegou pela porta da frente.
Pensa um Bhavan poderoso!
Empresários, atletas, advogados, estudantes, administradores, psicólogos, engenheiros, médicos, dentistas, chefs de cozinha, publicitários, jornalistas, altos, baixos, crespos, lisos, todas as cores, advindos de todos os lados do Rio Grande do Sul, de fora do Brasil e até mesmo do Maranhão, todos nós, lado a lado em fileiras organizadas hierarquicamente, percorrendo trilhas individuais, mas que ficaram instantaneamente mais prazerosas por estarmos juntos.
É no Bhavan que nos tornamos egrégora, mas o mais importante é que continuamos a ser egrégora mesmo fora dele. E somos uma egrégora antifrágil: absolutamente beneficiados com o caos.
Abraçamos a destruição, pois todo o solo precisa ser arado antes do próximo plantio. Ato seguinte (em um mátrá), vemo-nos prontos para a reconstrução. Já estamos há muito tempo plantando nossas sementes e já temos frutos para colheita.
É o Bhavan nos tornam egrégora, e dentro da egrégora, todos os lugares são Bhavan.
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