Transitoriedade
Texto por Paola Martins
Nada é. Tudo apenas está.
Há uma certa liberdade em conseguir fazer as pazes com este fato.
O dicionário Michaelis define “transitório” como “Que tem pequena duração ou permanência; temporário, transeunte, transitivo. Que pode morrer”.
E, como sabemos, para morrer, basta estar vivo.
De que adianta, portanto, gastar tempo e energia com outra coisa além de simplesmente viver? Porque todos os estados são transitórios. Tudo vem num instante para que se possa ir no próximo.
A liberdade vem temperada de instabilidade, insegurança, incerteza, mudança, e provisoriedade. Segurança máxima só existe em prisões (ou nem isso).
É na prática consciente da não possessividade que reside a possibilidade de desenvolver a habilidade de dia após dia, libertarmo-nos das prisões que forjamos para nós mesmos.
O apego, a possessividade, o aprisionamento, são como tentar segurar água com as próprias mãos: inútil e desgastante. Libertar-se começa justamente em deixar ir, deixar que a correnteza flua, como lhe é natural.
Pessoas, vem e vão. Amores, vem e vão. Amigos, vem e vão. Carreiras, vem e vão. Coisas, vem e vão. Casas, vem e vão. Gerações, vem e vão. Roupas da moda, vem e vão. Casos, vem e vão. Acasos, vem e vão. Lugares, vem e vão. O Sol, a lua, as estrelas, as nuvens, vem e vão. Ideias, vem e vão. E o tempo, todos os dias vem, e todos os dias, infalivelmente, vai-se.
Você não é capaz de apreender, de prender em si, coisa alguma. Mal somos capazes de apreendermos e prendermos a nós mesmos. Quando nos damos conta, fugimos de nosso próprio controle.
Pois tentar controlar, por si só, já é uma grande perda: a derrocada da liberdade.
Toda a tentativa de controle, de convencimento, é uma colonização.
Quantas vezes ao dia você acaba tentando colonizar a si mesmo?
Não tenha medo de não possuir, de deixar ir, de desapegar… Por mais que às vezes possamos confundir esse desprendimento com falta de amor, isto é uma inverdade.
O maior amor que podemos dar, a quem quer que seja, inclusive a nós mesmos, é a liberdade.
Desapegue-se, mas ame. Ame com todas as suas células, com tudo de si. Pois o amor, ainda que igualmente transitório, talvez seja o único vento que, mesmo passageiro, nos tire do lugar e nos arraste pra frente.
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