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Tudo o que você quer TER te domina

Texto por Paola Martins



A história da humanidade, tal qual como a conhecemos, é marcada pela noção de POSSUIR, de ter algo exclusivamente como seu, e por nossa ânsia desenfreada por acumular mais e mais posses: terras, metais preciosos, pessoas e, até mesmo, o tempo.


Confundimos a busca incessante por possuir tantas coisas com nossa busca igualmente frenética por alguma espécie de poder.


Acontece que, ao contrário do nosso imaginário, tudo aquilo o que queremos TER, ao invés de nos trazer qualquer potencial, na maior parte das vezes, em verdade, nos domina.


Ao buscarmos o acúmulo de coisas e de pessoas, sem qualquer tipo de consciência, apenas pela falsa noção de segurança e de poder que isso pode nos causar, de maneira meramente transitória, estamos apenas alimentando uma ilusão, e deixando-nos sermos dominados por essa fantasia.


Possuir algo ou alguém não é sequer factível. Não importa que tenhamos colocado a posse em todos os aspectos da nossa vida: na esfera jurídica (todas as coisas pertencem a alguém, e existe uma trilha de papéis e burocracias envolvidas por detrás disto), na esfera das relações humanas (ao tratarmos aqueles que amamos como coisas) e até mesmo na língua falada, (quantos pronomes possessivos criamos para referenciais as coisas? Meu, minha, seu, sua, deles…).


Mas, ainda que a lei dos homens lhe convença que de alguma forma você comprou e possui o quer que seja, a qualquer título, se você prestar atenção, o universo lhe mostra o exato oposto.


É impossível possuir uma pessoa. Ainda que vocês tenham assinado o instrumento jurídico mais solene de todos: o casamento. Ainda assim, cada um de vocês é um, é único, e é individual, e não há nada que você possa fazer que, no mundo dos fatos, lhe dê detenção exclusiva sobre todas as esferas de alguém. Ainda que você tenha o corpo de alguém ao alcance e à disposição das suas mãos, é impossível para você de fato apreender tudo o que compõe o outro, todas as nuances, todas as células, todos os fragmentos, todas as lembranças e experiências, os corpos mais sutis, as emoções, os pensamentos, nada disso.


E mesmo coisas, ainda que você tenha um contrato registrado em escritura pública que diga que alguma coisa lhe pertence, mesmo que você traga essa coisa consigo a todo o tempo, e nunca a perca de vista: você não tem a coisa em si. O que você possui são apenas as dimensões daquilo o que você consegue assimilar com os seus sentidos limitados, e apenas por tempo determinado (porque nós temos um prazo de expiração muito menor do que o da maior parte das coisas que existem no mundo).


Você não possui nada nem ninguém.


Insistir nesta busca pelo ter é deixar-se dominar por uma ânsia insaciável que nos engole e nos domina.


Permanecer neste paradigma significa deixar-se aprisionar por esta caixa.


Permita-se libertar, desapegando-se da falsa noção de que possuir traz qualquer tipo de poder, de potência.


O verdadeiro poder reside justamente em ser e deixar que seja.


Que tal começar agora?


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