Valorize o coletivo
Texto por Paola Martins
Somos uma geração que exalta o individual em detrimento do coletivo. Primeiro o meu umbigo, depois o meu rabo preso e só no fim na vida (se muito), é que vamos pensar no outro.
Poucos são os que, em época de efemeridades, de estórias que só ficam disponíveis por 24h, de narrativas filtradas e de estéticas padronizadas, rompem a sua bolha e se permitem estar presentes no mundo lá fora (mesmo que figurativamente, em tempos de pandemia).
Nós não somos o centro do mundo de mais ninguém, a não ser o nosso. Nenhuma outra pessoa na face da Terra pensa em você tanto quanto você mesmo pensa em você. E esse centralismo das individualidades está cada dia mais assoberbado.
Como existir, coletivamente, em pseudo-reinados de tantos eus-todos-poderosos?
Valorize quem escolhe estar ao seu lado, mesmo nos dias nublados. Somente aqueles que se comprometem com a vida fora da bolha escolhem cuidar e nutrir as relações, as amizades, os amores e até os coleguismos, pois sabem que é impossível ser completo - e mesmo ser fiel a si mesmo - estando sozinho.
E lembre-se: tudo o que está vivo precisa de cuidado para manter-se vivo.
Escolha diariamente ser terra fértil para o coletivo, para os amores, para as flores que nascem das amizades longevas e que fazem raiz.
Desapegue-se das projeções do seu ego sobre os outros, das regras que você inventa e dos padrões que ninguém cria, e que, por isso mesmo, são inalcançáveis e acabam te deixando sozinho. Não romantize a solidão, priorize as conexões que vão mais fundo, e colha os frutos desta jornada.
A provocação do texto de hoje é para que você pense nas relações que são mais valorosas para você, e faça a escolha consciente de nutri-las com as coisas certas: uma palavra de aconchego, um abraço (ainda que virtual), uma ligação ou mesmo enviando um brownie presente no meio da tarde, de surpresa.
Temos a tendência a tratar muito pior aqueles que temos certeza que nos amam do que aqueles que conhecemos só superficialmente. Somos déspotas com aqueles que amamos. E pior: mesmo quando fazemos questão de cuidar e de amar, cuidamos e amamos pela nossa régua, pelas nossas necessidades, e não nos propomos a ouvir e a enxergar as necessidades dos outros.
Esquecemos o tempo inteiro que somos coletivos, e é uma pena.
Há uma força e uma beleza incomparáveis em se estar junto.
Valorize ser continente, um mundo de ilhas desertas.
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